sábado, 25 de junho de 2011

TICs

Ele olhava absorto para a tela do computador. Há mais ou menos uma semana que fazia isso com uma constância que beirava o insano. Ou o tédio. As páginas abertas eram sempre as mesmas: e-mails, documentos de trabalhos e as redes sociais. Estas ele conferia com frequência. Buscava notícias. Sinais. Qualquer coisa que ele poderia muito bem perguntar diretamente para ela. Mas não sabia se devia. Quer dizer, no final, não teria mal algum, teria? Ele podia simplesmente a chamar para uma cerveja. Não, cerveja não. Café? Cinema. Não, show. Foda-se, ele não ia fazer isso. Mas se ela chamasse, ele não negaria o convite. Aceitaria com entusiasmo. E depois passaria o dia pensando na merda que fez.
Ouvia o dia inteiro músicas que achava que ela gostaria de estar ouvindo, como se ela pudesse ouvir através dele. Buscava vídeos, filmes e textos que sabia que a fariam sorrir ou chorar, como se ela estivesse mesmo sorrindo ou chorando com ele.
Talvez tudo o que ele quisesse fosse um abraço. Talvez nem precisasse ser dela. Mas, ela. Por que ela? Por que logo ela? Talvez justamente por isso.
Talvez ela não fosse mais ninguém que ele mesmo, projetado naqueles cabelos longos e olhar malicioso. Talvez ele só precisasse trepar, sei lá.
O próximo passo a se tomar era óbvio: desligar o computador.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Se este decifrar é lento

posso gastar uma vida toda nisso, e em mais uns tantos outros decifrares que o meu caminho cruzarem. E assim, decifrando os outros, decifro o mundo, e logo a mim mesma.

Quem sou eu? Se este decifrar é lento, posso gastar uma vida toda nisso...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

(ameteorologia)

Hoje está um dia tumultuado para se ficar na praça do relógio. A natureza tem pressa. As folhas, galhos e poeira correm e voam na batuta do vento. Venta forte.
O que será que esse vento anuncia? Não sei. Como saberia? No céu não há sinal de chuva; somente um grande sol, quente, acolhedor. Seria um dia calmo e aconchegante, se o vento não estivesse tão inconstante.
Que tempestade vem aí?
Junto com as folhas, o vento traz um perfume. Alguém ao longe cheira bem. Atravesso a praça. Nossos caminhos se cruzam. Nossas marcas se misturam num vértice. Mas nós nunca nos encontramos. Estamos descompassados.
Incrível como apreciamos tantas flores sem nem saber quem as semeou. Todo um pesar dos encontros e desencontros da vida me assoma. Mas não há mais do que sorrir, porque é tudo belo.
O vento forte derruba meus verbos. E nada mais importa, a não ser a sensação de liberdade que ele sopra.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um dia, um mundo inteiro

Não tem ninar maior do que o das ondas
Não tem briga maior do que com o mar
Não tem abraço mais quente que o sol poente
Ou o sol nascente, amarelo laranja vermelho

E o vento, cheio de afagos
Pondo o mundo em movimento.
Praia: vento, sol e mar.

Mas, e o verde da grama do campo!
Ou o laranja outonal das árvores,
E o caminho de flores que a primavera faz
Pra mim, pra você, pra gente passar.

O mundo todo é meu lar.

A água da cachoeira renovando,
Levando tudo pra todo lado,
Mudando aquilo que se quer esquecer.

Pra dar conta da vida é preciso muita água.

E a gente, tanta gente, cada gente
E cada dia mais alguém para se cantar
- Ah, morena!
A flor dos teus olhos
Faz minh’alma parecer pequena.
Todo final de frase é um amar.

A vida nesse pequeno espaço, cheio de horizontes
A vida nessa cidade grande, cheia de fronteiras
Eu vou deixar esse lugar, pra viver o mundo todo.

Viajar é um jeito de fugir de mim
e ao longe me encontrar.