quarta-feira, 24 de abril de 2013

scendentes



(suspiro profundo)

(suspiro profundo)

Coração,
meu corpo todo pede menos coração.
Esse sangue que corre pulsante em minhas veias,
apimentado, emocional, instintivo e racional
- ele não sabe que uma coisa se contrapõe à outra –
;
o corpo pede menos italianisse, menos molho,
menos sangue de tomate,
que o resto naufraga em tanto líquido.
Há horas oportunas para meus outros ancestrais se colocarem.
Agora, por exemplo.
A calma mineira (Favor apresentar-se no balcão principal).

Há uma sobriedade paulistana
e toques orientais de paciência e transcendentalismo
que são solapados pelas cores latino-americanas
e o fervor do protesto
a sede de justiça
e a vontade de amar.

O mar interno se manifesta.
Eu quero calmaria, ser ninada pelas ondas,
- não é tempo de calmaria
eu quero deitar na rede, bafo quente, manemolência,
- serás sugada por seus próprios tsunamis
algo assim, para fugir de mim;
que é verdade, às vezes nem eu me suporto.

Coração,
meu corpo todo pede menos coração.
Ele desce à barriga, dança com as borboletas.
Busca saída pelo útero.
Uf, como cresceu esse louco.
Lateja forte. Desmaio, desmaio mês após mês.
O carinho é grande, mas é difícil suportar.
É de muitos anos,
Poucos dias,
Às vezes algumas semanas.

E cedo ou tarde vou parir meu coração.
Ai de mim!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Vida depois de.



Tenho olhos cansados de tanto chover. A cada dia o céu se torna mais parte da Terra, em forma d’água. Traz umidade e melancolia, pois não há sol.
Dentro de mim se instaura a seca. Quando a chuva vem daqui é por pura empatia às janelas molduras do tempo, reação afetiva de querer estar com o mundo.
No interior não chove nem faz sol. Os lagos estão parados esperando crianças chapinharem e gritarem felizes.
Há um vazio nessa sala, com trânsito repentino de pessoas que entram sem saber aonde vão. Descobrem falso seu destino e se retiram, reiterando a solidão daqui.
Pergunto-me se seremos todos anjos nesse espelho de céu que se forma. Pergunto-me se terei vida depois de. E então me canso de perguntar, e volto a ser.



(01/02/13)