segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A única coisa que faz sentido nesse lugar são as pombas no telhado




Às vezes me pergunto por que é mesmo que não gosto dessa cidade... Parque da Luz, 16h30; Ibirapuera, 10h: a incidência do sol e o canto dos pássaros me fazem sentir outra pessoa, deslocada para um lugar melhor, para algum canto aconchegante de memória ou ideal.

Mais um dia de trabalho, respiro fundo, menos um dia de trabalho. Cinco minutos de passeio no Parque da Luz, por que não faço isso todo dia? Olha o moço lendo livro na mesa de pedra, com o lago de fundo. Olha os senhores que tocam moda de viola. Olha as mulheres rotineiramente sentadas nos bancos ou apoiadas em árvores, esperando por um dia a menos de trabalho...

O crepitar das folhas no chão, as esculturas distribuídas pela grama, uma brisa leve que às vezes São Paulo se esquece de soprar... Minhas alpargatas pretas aos poucos vão se desbotando, ficando marrons, enchendo-se de terra. Isso é vida. A vida inteira vale a pena por esses 5 minutos no parque.

No saguão da estação alguém toca uma fuga no piano. Ah, Luz, e suas adoráveis surpresas!

Eu quero mesmo é ir embora de São Paulo, pra me lembrar com carinho desses minutos, parcas horas, tão maiores que a vida-moribunda alimentada por inércia apática. E um dia voltar e tocar Eric Satie nesse piano, para os passantes e trabalhadores lembrarem-se da brisa leve e sol morno que ainda há.


Alguma coisa tem que valer a pena.