quinta-feira, 21 de maio de 2015

A cereja do bolo é o corvo na janela

Hoje estou cheia de passado.
Há tanto passado em mim
que já nem sei direito o presente.
Talvez porque o presente ande mesmo meio etéreo
abrindo espaço para qualquer coisa que o queira preencher.
Deveria ser o futuro
Acho que deveria ser o futuro
Mas talvez aquela incerteza traga antes
memórias de outros tempos felizes
(talvez já romantizadas, polidas, relativizadas)
do que os planos pro que há de vir.
Talvez que a felicidade do que foi
esteja abrindo os braços pra alegria do que virá
E enquanto isso

A cereja do bolo é o corvo na janela.
De tanta coisa que aconteceu hoje,
acho que essa é a mais melancólica de todas.
Durante minutos e minutos ele sentou na chaminé
e olhou através de minha janela.
Ensaiei tirar-lhe uma foto, então ele se foi.
Esse olhar tão impregnado de “never more” e silêncio
parecia querer me lembrar
da durabilidade dos dias de chuva e contemplação em solo europeu;
de que refletir sobre o passado é um lapso
de que Ei, Veja só o presente aqui.

O silêncio emudecido ao som do contrabaixo acústico
voltou com o céu cinzento
(a primavera etérea como o dia de hoje).
Então nada me resta além de compor,
plantar notas nesse silêncio fecundo.